quarta-feira, 7 de abril de 2010

A iconografia do demônio no período medieval


a imagem em questão é do manuscrito de Praga, primeira pintura feita sobre o demônio no período medieval
A Iconografia do Demônio na Idade média
Eu decidi iniciar a série de postagens sobre o demônio no período medieval falando sobre sua iconografia, como chegou a imagem que temos hoje, vermelho, patas de bode, chifres e tridente. O demônio no período medieval é o meu objeto de estudo, principalmente a relação social que orbitava na figura de Satã. Ao final desta série postagens espero ajudar meus amigos visitantes a compreendermos melhor as relações de poder e religião do período medieval.
Durante grande parte do período medieval, apesar do demônio ser algo palpável na vida das pessoas, independente de classe social, não havia ainda uma iconografia do demônio. Principalmente porque a igreja afirmava que Satã poderia assumir qualquer forma, tanto a de um belo cavaleiro quanto a de uma serpente, as formas que Satã poderia assumir dependeriam de qual designio ele teria, ou seja, poderia ser belo e sábio para tentar corromper um bom homem ou poderia ser repugnante para amedontrar os corações do povo, principalmente os mais pobres.

Durante o medievo, muitas eram as dificuldades dos artistas para retratar o demônio, como citado acima, a igreja ao afirmar que ele poderia ter qualquer forma, dificultava e muito o trabalho daqueles que queriam retrata-lo.
Um dos grandes problemas começou a ser resolvido quando os artistas e teólogos retornaram à antigüidade pagã. As primeiras representações foram amplamente inspiradas em Pã, Deus grego das florestas e dos bosques, sua representação é a mesma do sátiro, uma criatura com pernas de bode, cascos e chifres. Foi neste momento que a a concepção de que o Diabo seria como todas as criaturas criadas por Deus, sua imagem e semelhança foi sendo derrubada. A iconografia demôniaca servia então como forma de propaganda, devemos nos lembrar que a alta idade média ainda passava por um processo de cristianização, principalmente nos pontos mais distantes dos grandes centros, como Roma.
Logo depois fora necessário incorporar ao demônio um armamento, no qual ele flagelaria o povo, então fora escolhido o Tridente, marca de Poseidon, senhor dos Mares na Grécia Antiga.
Até então nesta época no século IX não havia uma forma definida, estas formas antropomórficas e baseadas na mitologia, simbolizam também “o papel do demônio”, até então de certa forma mais escondido na história cristã. Segundo Le goff e Schimit:
“Ao que parece, a importância do Maligno vai se reforçando globalmente durante o curso da Idade Média. Note-se que o Diabo está quase ausente das imagens cristãs até o século IX. É somente por volta do ano 1000 que encontra uma posição digna dele, quando se desenvolve uma representação específica enfatizando sua monstruosidade e animalidade, e manifestando seu poder hostil de modo cada vez mais insistente”. (2002, vol I, p. 319).

Foi exatamente no ano 1000 que o demônio ganhou sua “forma” na iconografia medieval. Chifres vindos do Deus Pã, o Tridente de Poseidon, a pele escamosa lembrando o Dragão, ou ainda a Serpente que tentou Eva. A pele vermelha também vem da antiguidade clássica incorporada dos Djnnis, ou gênios, que eram espíritos folclóricos da região do Oriente próximo até a Arábia distante.Posteriormente as asas foram incorporadas em uma alusão não só a criaturas noturnas como morcegos(símbolos de mau agouro) mas também aos Dragões, criaturas rotineiras na mitologia Nórdica.

Podemos assim concluir que a igreja ao colocar no demônio arquetipos do folclore e da mitologia da antigüidade clássica, estava começando um movimento que foi crucial para seu crescimento durante o período, que era a demonização do inimigo. Foi também neste período que a igreja se colocou como o escudo que protegeria a humanidade das atrocidades da Besta.
O período do Século IX fora importantíssimo para igreja no contexto de afirmar a fé cristã como única na Europa pagã, e a iconografia contribuira, pois mostrava aos recém convertidos o quão mal e repugnante era o Senhor daqueles que não era cristãos verdadeiros, podendo assim ter mais argumentos de conversão e principalmente ridicularizando as tradições culturais e científicas da Antigüidade clássica, pois na associação iconográfica fica claro que tudo o que é ligado a este passado, é demôniaco, profano, portanto deve ser purificado.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A historiografia da Guerra do Paraguai

Por Felipe Castanho
Acredito que Doratioto retira o véu que criava uma imagem “onipotente” de Solano Lópes e de um conjuntura pré-guerra extremamente favoravél ao Paraguai, mas isto somente e possível através de um forte embasamento documental. Como uma carta do representante britânico Edward Thornton ao chanceler paraguaio José Berges, em que deixava explícito que apesar das relações britânicas com o Brasil não irem bem, se posicionava com uma postura reconciliadora entre as duas nações afim de evitar uma guerra entre estes, escrevendo que “se puder servir, no mínimo que seja, para contribuir para a reconciliação dos dois países, espero que V.E não hesite em me utilizar” (Doratioto, Maldita Guerra, página 90).
O autor consegue dar uma legitimidade maior ao seu trabalho ao explicar o porque da historiografia ter seguido durante muito tempo um visão equivocada do que foi o personagem de Solano Lópes, assim como de uma conjuntura política e bélica totalmente errônea. A princípio Doratioto afirma que ditadores paraguaios modificaram a imagem moral de Solano para poderem dar uma consistência maior a seus governos nada democráticos. E enquanto isto no Brasil os intelectuais do positivismo no início do século XX, um movimento que era contra a monarquia diga-se de passagem, se empenhavam em escrever que o Brasil Monárquico e a Argentina eram extremamente dependentes da Inglaterra Imperialista, ocasionando o conflito na região do Prata, pois segundo os positivistas a “República” do Paraguai já competia tecnologicamente, políticamente e comercialmente com a Inglaterra. E como à “História e fruto de seu tempo” tivemos esta historiografia influenciada por intelectuais anti regimes monarquistas.
Fonte biblíográfica: DORATIOTO,Francisco, Maldita Guerra
Felipe Castanho é estudante das Faculdades Integradas Simonsen

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Revisionismo histórico na guerra do Paraguai

a imagem em questão é a do Ditador Francisco Solano López
O revisionismo Lopizta dos anos 20 e 30 no Paraguai sob a ditadura de Rafael Franco decretara Solano López como herói nacional, durante a ditadura de Stroessner o Lopizmo fora apoiado abertamente pelo estado, Stroessner se considerava herdeiro do legado de solano López.
Já no Brasil os positivistas, anti monárquicos responsabilizaram o império pelo conflito, quando na verdade fora López quem iniciara as agressões. Alguns pensadores acreditam que a corrente positivista no Brasil tivessem uma idéia errônea da guerra no contexto da formação da nacionalidade brasileira. Durante a década de 60 e 70 sob os auspícios das ditaduras militares os revisionistas foram ainda mais longe, creditando a guerra às maquinações imperialistas da Inglaterra, diante do progressismo Paraguaio. O revisionismo desta época tencionava mostrar um paraguai com um projeto independente de crescimento, sem a influência da Inglaterra, enquanto Brasil e Argentina seriam meros fantoches da política periférica da Inglaterra, esta visão colocava as nações envolvidas(Brasil e Argentina) como sujeitos passivos da influência inglesa e o paraguai independente dos Europeus, quando a história mostra que a Inglaterra era contra um conflito no Prata, e as relações entre o Império e a Inglaterra estavam abaladas. Essa corrente não avaliara os fatos históricos que mostram que a Inglaterra importava todo o seu algodão na época do Egito e o apoio dos banqueiros à Brasil e Argentina fora simplesmente por uma questão de retorno financeiro. Este revisionismo de esquerda tendia a aproximar Cuba, então única nação socialista das Américas , então ameaçada pelos Estados Únidos e o Paraguai ditadura segundo os revisionistas progressista ameaçada pela Inglaterra, então maior nação da época. Fora esse revisionismo de esquerda que não levou em consideração que Mitre era considerado um dos pilares do liberalismo na Argentina e Caxias e Tamandaré foram elevados à patronos do exército e da Marinha respectivamente.
Ao final posso constatar que diferente do que o revisionismo prega, não há bons ou maus em relação à guerra do Paraguai, mas sim atores sociais com pensamentos de sua época, não podemos acusar Solano López pela invasão ao Mato Grosso, nem o Império de agir sob interesses britânicos, a guerra do Paraguai foi uma guerra de seu tempo, necessária aos três países na época.
Fonte biblíográfica: DORATIOTO,Francisco, Maldita Guerra

segunda-feira, 8 de março de 2010

Rainha Vitória uma governante a frente de sua época



A Imagem em questão é do casamento da Rainha com seu amado Alberto de Saxe-Coburgo-Gotha.

Hoje é um dia especial, dia internacional da mulher, decidi fazer uma postagem especial sobre essa época, porém ao invés de falar do motivo do dia 8 de março ser escolhido ou das implicações sociais da época em que ocorreu a morte das trabalhadoras, decidi dedicar a postagem à Rainha Vitória da Grã Bretanha e Irlanda, cargo este que foi ocupado por 63 anos, a monarquia mais duradoura já vista na Grã Bretanha.
Vitória filha de Eduardo, duque de Kent, quarto filho do rei Jorge III , subira ao Trono com 18 anos, aos 21 se casa com o Primo Alberto de Saxe-Coburgo e Gotha que fora sua grande paixão, assim como o Império britânico.
Com relação ao seu casamento fato interessante foi da própria rainha pedir o primo em casamento, casaram-se por amor, e o que torna mais interessante a união é o fato de Vitória ter acrescentado um véu ao traje nupcial, tradição que perdura até os nossos dias.
O governo da Rainha Vitória foi marcado por uma forte expansão territorial, econômica e militar do império britânico, chegando ao seu auge territorial, nesta época surgiu a expressão: “Sempre há sol no império britânico”, em clara referência à sua extensão. É marcada também uma era de enormes mudanças técnicas em todo império, foi no período vitoriano que surgiu o metrô, o sistema esgoto moderno, os telegrafos, ferrovias mais seguras e rápidas, a tower bridge, a dragagem do Tâmisa. A Rainha vitória tinha apoio de seus súditos, seu governo foi marcado por um expressivo sentimento nacionalista, sucessivas guerras colôniais, também podemos observar em seu contexto um grande crescimento da moral conservadora, em compensação foi o período de grande ascenção da classe média e de maior participação do povo no governo do império. A população britânica duplicou no mesmo período, Londres passou a ser definitivamente o centro comercial do mundo ocidental.
Em termos sociais, o período vitoriano teve um grande impacto, podemos colocar com relação à leis a “Mining act” que proibia o trabalho de mulheres e crianças nas minas de carvão. Nas escolas fora implantada a educação física como parte do programa didático. Os esportes foram levados para escolas e academias militares, onde nasceram o football, rugby entre outros esportes. Na Literatura o período vitoriano foi responsável por parte dos grandes escritores do século XIX, como Sir Arthur Conan Doyle entre outros. Na arquitetura o gótico foi empregado em várias construções por todo Império, No meio científico tivemos a 1º Grande Feira, a expedição de Darwin Galapágos. Na diplomacia o período vitoriano foi marcado pela diplomacia das canhoneiras, e nas sucessivas guerras como citadas acima, principalmente colôniais, embora possamos destacar a participação da Inglaterra na Guerra da Criméia.
A parte negativa do governo de Vitória foi marcada principalmente por causa da Grande Fome da Irlanda e dos Massacres na Índia e no Paquistão.
Infelizmente, após a morte de Alberto, a Rainha não atuou mais tão incisivamente na política do império, alguns pesquisadores atribuem a isso a depressão que a Rainha sentira após a morte de seu amado, Vitória resignou-se ao Luto até sua morte aos 81 anos de idade na ilha de Wigth. Seu Enterro também foi marcado por mais uma transgressão, fora carregada por seus filhos, e fora enterrada com um vestido Branco e seu véu, que usara no casamento. O véu posteriormente fora adicionado à tradição mortuária.
O reinado de Vitória fora tão importante que o período que ela reinou ficou conhecido como era vitoriana, um período marcado pelo crescimento do império britânico à limites nunca antes imaginados do Império.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A liberdade feminina nos monastérios medievais

Na idade média as mulheres tinham um papel secundário na sociedade, principalmente por causa da interpretação da Curia católica com relação ao pecado original, que no período medieval era atribuida às mulheres, tendo eva como primeira pecadora. A maior parte do imaginário lendário medieval com relação ao demônio tinha a mulher como protagonista. Sendo a pessoa que cai na tentação para Lúcifer ou como a pessoa que convence o homem e bom fiel a cair na tentação das artes das trevas.
O único papel que as mulheres poderiam desempenhar na sociedade medieval fora do claustro era o de esposa e provedora de filhos, peças fundamentais na economia rural do alto medievo, excluia-se assim a possibilidade do estudo fora do claustro para as mulheres, as poucas instituições de ensino fora dos monastérios eram exclusivamente masculinas.
As mulheres do medievo só podiam ter acesso ao mundo letrado se estivessem dentro de um monastério, a maioria das mulheres passavam parte da sua vida, antes do casamento em um monastério para conservar sua virgindade e aguardar o casamento, muitas acabavam continuando seus votos, ou seja, ficavam nos monastérios como irmãs de fé. Apesar das mulheres não poderem assumir altos postos na hierarquia da igreja muitas preferiam a liberdade que gozavam no interior dos muros dos mosteiros a vida como esposa, dentro dos mosteiros as mulheres do medievo tinham a chance de estudar as sete artes liberais, em casos de mosteiros mais liberais em mosteiros mais conservadores somente acesso ao estudo do latim e das escrituras sacras. Sendo assim podemos concluir que apesar da repressão instaurada pela igreja o claustro era uma opção viável onde as mulheres tinham liberdades para estudar e escrever e também poderiam redimir-se dos pecados que a igreja lhes instaurava.

fonte:Entre Deus e o Diabo, cap 2: Hildegarda de Bingen

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Heródoto de Halicarnasso


Para começar as postagens do blog irei me valer do pai da História, para que bons ventos sejam trazidos. Colocarei um trecho do Livro I de Heródoto(Clio) no qual é apresentada a origem da inimizade entre Gregos e Persas, que mais tarde iria se transformar em conflito armado, as guerras médicas.
Ao escrever a sua História, Heródoto de Halicarnasso teve em mira evitar que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que as grandes e maravilhosas explorações dos Gregos, assim como as dos bárbaros, permanecessem ignoradas; desejava ainda, sobretudo, expor os motivos que os levaram a fazer guerra uns aos outros. Por este motivo Heródoto é considerado Pai da História, pois o mesmo quebrara o paradigma de seu tempo, ou seja, passou a escrever a história dos homens não dos Deuses e grandes heróis. O trecho do Livro I escolhido demonstra exatamente sua vontade de expor diferentes pontos de vista na sua escrita:

"I — Os Persas mais esclarecidos atribuem aos Fenícios a causa dessas inimizades. Dizem eles que esse povo, tendo vindo do litoral da Eritréia para as costas do nosso país, empreendeu longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabelecido no país que ainda hoje habita, transportando mercadorias do Egito e da Assíria para várias regiões, inclusive para Argos. Esta cidade era, então, a mais importante de todas as do país conhecido atualmente pelo nome de Grécia. Acrescentam que alguns fenícios, ali desembarcando, puseram-se a vender mercadorias, e que cinco ou seis dias após sua chegada, quase concluída a venda, grande número de mulheres dirigiu-se à beira-mar. Entre elas estava a filha do rei. Esta princesa, filha de Inaco, chamava-se Io, nome por que era conhecida pelos Gregos. Quando as mulheres, postadas junto aos barcos, compravam objetos de sua preferência, os fenícios, incitando uns aos outros, atiraram-se sobre elas. A maior parte delas logrou fugir, mas Io foi capturada, juntamente com algumas de suas companheiras. Os fenícios conduziram-nas para bordo e fizeram-se à vela em direção ao Egito.

II — Eis como, segundo os Persas — nisto pouco de acordo com os Fenícios — Io veio parar no Egito. Essa questão foi o início de todas as outras. Acrescentam os Persas que, pouco depois, alguns gregos, cujos nomes não gravaram, vieram a Tiro, na Fenícia, e raptaram Europa, filha do rei. Eram, sem dúvida, Cretenses. Ficaram, assim, quites os dois povos, mas os Gregos tornaram-se depois culpados de uma segunda ofensa. Dirigiram-se num grande navio a Aea, na Cólquida, sobre o Faso, e, ultimados os negócios que ali os levaram, arrebataram Medéia, filha do rei, e tendo esse príncipe enviado um embaixador à Grécia para exigir a entrega da filha e a reparação da injúria, responderam-lhe que, como os Colquidenses não haviam dado nenhuma satisfação pelo rapto de Io, eles não o dariam absolutamente pelo de Medéia."

Fontes: Livro I (Clio), Heródoto de Halicarnasso